Entenda, na prática, a diferença entre Indústria 4.0 e Internet das Coisas (IoT)
Rodrigo Trentini, Prof. Dr., Instituto Federal de Santa Catarina
É fascinante observar como novos termos se infiltram em nosso vocabulário cotidiano e, muitas vezes, não dedicamos tempo suficiente para refletir sobre seu verdadeiro significado. Especialmente na área de Automação, atualmente ouve-se e fala-se muito sobre Internet das Coisas (IoT, do inglês Internet of Things) e Indústria 4.0. Você já parou para pensar sobre a diferença entre elas? Há alguma diferença?
Para iniciar, vamos contextualizar ambas para depois discutir suas diferenças.
Internet das Coisas (IoT)
O termo em inglês, Internet of Things, apareceu pela primeira vez em 1985, em uma palestra de Peter T. Lewis, durante um congresso em Washington, D.C. O autor citou que “a IoT é a integração de pessoas, processos e tecnologias, a partir de dispositivos e sensores conectados, de forma a possibilitar monitoramento remoto, status, manipulação e avaliação de tendências de tais dispositivos”.
O fato é que a ideia por trás do termo já existia: o primeiro exemplo conhecido de uma aplicação IoT ocorreu em 1982, na Universidade Carnegie Mellon, nos EUA. Uma máquina de venda automática de refrigerantes foi conectada à uma rede dedicada para informar ao controle de estoque, se era necessário repor as bebidas e se estavam na temperatura correta.
Portanto, a partir do exemplo e da fala, citados, podemos entender, de forma simples, a IoT como uma tecnologia que permite que dispositivos diversos se comuniquem entre si, usando algum tipo de rede de comunicação.
Neste ponto, você deve estar se perguntando: “ok, mas quais são estes dispositivos?”. Se pararmos para pensar no mundo atual, perceberemos que qualquer coisa que possua algum tipo de protocolo de comunicação, se enquadra: sensores, atuadores, computadores, câmeras, eletrodomésticos, telefones celulares, alto-falantes, bombas de combustível, semáforos etc. A lista é enorme!
Quando focamos em aplicações industriais, alguns autores utilizam o termo IoT Industrial, ou IIoT. Esta diz respeito especificamente à instrumentação e controle de sensores e dispositivos industriais.
Indústria 4.0
Quando falamos sobre Indústria 4.0, estamos, na verdade, falando sobre a 4ª Revolução Industrial. Vale a pena relembrar, rapidamente, das outras três, para entender do que esta se trata (mais detalhes neste artigo).
1ª Revolução Industrial: ocorreu entre 1760 e 1840 e foi marcada, principalmente, pela transição entre a produção 100% manual e o uso de máquinas a vapor.
2ª Revolução Industrial: foi marcada pela transição entre as máquinas a vapor para as máquinas elétricas. Foi o início da utilização em massa, da eletricidade e do petróleo, o que se deu aproximadamente entre 1870 e 1915. Alguns autores a chamam de Revolução Tecnológica.
3ª Revolução Industrial: também chamada de Revolução Digital, ocorreu a partir da introdução dos computadores nas indústrias, para auxílio nos processos de produção, a partir dos anos 1980.
O termo Indústria 4.0 foi mencionado pela primeira vez na Feira Industrial de Hannover (Hannover Messe), na Alemanha, em 2011. O Prof. Dr. Wolfgang Wahlster, da Universidade de Saarland, é amplamente considerado como o responsável por cunhar esse termo.
Podemos nos considerar com sorte, pois, no momento em que você lê este texto, está ocorrendo a 4ª Revolução Industrial. Mas do que ela se trata?
Tudo é sobre Automação! É a troca de dados entre as máquinas, incluindo sistemas ciberfísicos, IIoT, computação em nuvem, computação cognitiva, robótica colaborativa e inteligência artificial. Essa integração resulta em mais automatização, melhor comunicação e máquinas inteligentes capazes de diagnosticar problemas sem a necessidade de intervenção humana.
Agora, finalmente podemos voltar ao ponto central deste texto.
Diferença entre IIoT e Indústria 4.0
De fato, há alguma confusão entre os termos. Alguns autores até os utilizam como sinônimos, o que não me parece correto.
Note que a IIoT é um dos muitos pontos-chaves da Indústria 4.0. Ou seja, Indústria 4.0 é um conceito mais abrangente, que considera várias tecnologias diferentes para auxiliar na tomada automática de decisões, nos processos produtivos. A IIoT é uma dessas tecnologias, sendo a responsável pela comunicação entre os dispositivos.
Vantagens da Indústria 4.0
A Quarta Revolução Industrial apresenta um potencial significativo para aprimorar a acessibilidade e a transmissão de produtos e serviços em toda a cadeia de valor, diretamente beneficiando empresas e consumidores. Dados preliminares sugerem que a adoção bem-sucedida das tecnologias envolvidas da Indústria 4.0, resulta em cadeias de suprimentos mais eficientes, aumento da produtividade, redução do desperdício nas fábricas e uma série de outros benefícios para colaboradores e consumidores.
Para resumir, são três os principais objetivos da implementação do conceito de Indústria 4.0: agilidade, flexibilidade e eficiência na manufatura.
Como exemplo de flexibilidade, uma famosa empresa de bens de consumo na Ásia construiu uma réplica digital de sua cadeia de suprimentos para simular diferentes cenários. Durante a pandemia de Covid-19, a empresa utilizou esse simulador para se preparar para fechamentos repentinos ou interrupções no fornecimento de materiais, se antecipando de forma a saber qual estratégia tomar a depender do cenário.
Sobre eficiência na manufatura, tem-se o exemplo de uma grande fábrica de máquinas de café em Treviso, na Itália. A partir da implementação de tecnologias da Indústria 4.0, a produtividade do trabalho aumentou em 33% e os prazos de entrega reduziram em 82%.
Importância da instrumentação na IIoT e na Indústria 4.0
Considerando a importância dos avanços da IIoT e, consequentemente da Indústria 4.0, é fundamental destacar a necessidade de tomar precauções ao escolher instrumentos de medição. No cenário atual, com inúmeras opções disponíveis na internet, é essencial ter cuidado na seleção, pois existem produtos de qualidade duvidosa. Recomenda-se buscar referências, consultar manuais e entrar em contato com os fornecedores antes de tomar uma decisão de compra.
É crucial compreender que a qualidade da instrumentação é vital para o correto funcionamento de qualquer dispositivo de IIoT. Utilizar instrumentos de medição de baixa qualidade compromete o desempenho e a confiabilidade de todo o processo industrial, prejudicando enormemente a implementação do conceito da Indústria 4.0 na sua planta fabril. Portanto, é imprescindível garantir que a instrumentação escolhida seja de alta qualidade, para assegurar um funcionamento adequado.
Rodrigo Trentini é professor do Instituto Federal de Santa Catarina. Possui doutorado em Engenharia Elétrica pela Universidade de Hannover, Alemanha. Sua principal área de pesquisa é: Sistemas de Controle.
